sábado, 3 de agosto de 2013

Vampiros





O vampiro é um dos personagens mais adorados da imaginação e sua origem é tão sombria quanto as sombras dentro das quais este ser aguarda suas vítimas. É óbvio que esses seres existem, embora a realidade não seja tão charmosa e sexy quanto é na fantasia. E, na maioria dos casos, o vampiro não vem de um lugar distante e não precisa pedir permissão para entrar em sua casa, sendo bem provável que ele já more com você e, talvez, pode até ser um dos seus pais ou namorado(a).

Todo mundo já deve ter se encontrado com um amigo ou um desconhecido e, logo em seguida, ficou esgotado e sem forças. Se isso aconteceu com você ou está acontecendo, é certo que você travou contato com um vampiro. Sua energia vital foi extraída do seu sistema, de seu sangue e você sentiu os efeitos de uma típica depleção energética.

Esse texto é para te ajudar a reconhecer um vampiro comum, pois existem muitos por aí, porém, utilizando sempre a mesma tática, que consiste em roubar toda a atenção de suas vítimas.





Por favor, me ame!





Como já comentado em outros textos, nossa sociedade tem o grande hábito de cultivar conceitos sem saber o que realmente são. Portanto, para começar a desfazer os mitos, vou, primeiramente, elucidar o amor, pois nunca vi algo confundir tanto nossa cultura. Cada um expõe sua versão, relaciona com mil e uma expectativas, de forma que a afirmação “eu te amo” se tornou assustadora a meu ver. Afinal, dependendo da história de vida da pessoa que o afirma, de seu desenvolvimento pessoal e com quais expectativas ela relacionou tal famosa frase, ela pode ser a maior das maldições que alguém poderia lançar, pois, quando, em geral, alguém declara que ama outra pessoa, na verdade, legitima-se que, a partir daquele momento, você se tornará escravo e supridor de todas as carências daquele que diz amar. Por isso, cuidado com aqueles que declaram amar intensamente. Você pode estar conhecendo seu futuro ditador.

Mas como o amor se relaciona com o vampirismo? Bem, é pelo fato de o amor, na verdade, não se tratar de um sentimento. O amor é uma ação, a ação de prestar atenção. Todas as vezes em que você presta realmente atenção em algo ou em alguém, você está amando o objeto de sua atenção, pois projeta-se energia vital para o ser observado. Por isso gostamos tanto de receber atenção e almejamos intensamente a fama, pois o fato é que, quando alguém presta atenção, nós estamos sendo energizados, a pessoa em questão nos transformou em seu ponto de interesse  está nos enviando muita energia . Agora, imagine a quantidade recebida por um artista com uma platéia gigantesca. Ele recebe força e vitalidade inimagináveis e, por isso, faz tudo para manter os holofotes sobre si. Não se trata de dinheiro, pois a maioria já tem mais do pode gastar. Eles mantém suas performances para focalizar as atenções. E é essa transferência de energia dirigida para outrem que se denomina amor. Então, se você não estiver prestando realmente atenção, você não está amando nada e nem a ninguém.

O problema é que essa energia que nós recebemos dos outros é extremamente prazerosa, viciante e ela é necessária para a construção de um psiquismo forte e saudável. Mas essa construção deve ser sedimentada na infância, sendo os pais responsáveis por prover seus filhos com essa energia, o que, infelizmente, raramente acontece. Quando uma pessoa cresce com essa carência de atenção ou amor, torna-se um adulto com bases energéticas muito frágeis, passando a ser compelido automaticamente a compensar tal débito com a energia dos outros e se tornando um vampiro legítimo. Entendido agora?




 Dramas de controle




É atributo da natureza humana refinar hábitos e desenvolver ciências e, como não poderia ser diferente, sofisticamos, também, a arte de roubar a atenção ou amor alheios. A essa “tecnologia” conferimos a denominação “drama de controle”. E é sobre essa forma de vampirismo que vamos falar agora.

Basicamente, a técnica consiste em chamar e prender a atenção de uma pessoa.  Existem alguns métodos bem comuns que serão descritos, a fim de que você possa perceber rapidamente esse tipo de ataque. Ensinarei, também, como quebrá-lo. 




            O “coitadinho de mim”



Esse é o método mais comum e, também, o mais fácil de ser quebrado. Basicamente, a pessoa que tenta roubar sua energia se faz de vítima, o mundo inteiro parece estar contra ela e, segundo seu discurso melodramático, ninguém gosta dela, também. Esse tipo de pessoa é muito fácil de detectar, pois reclama a todo o momento. Reclama do trabalho, da saúde, dos filhos, do clima, de falta de dinheiro, ou seja, a lista não tem fim. E, quando você soluciona o problema para ela, automaticamente, será levantada uma nova barreira. Então, você tenta uma solução ainda mais criativa, mas, para sua surpresa, a criatura já está com outra dificuldade na ponta da língua e, ainda por cima, com lágrimas nos olhos. Tadinho! Contudo, você precisa entender que ele não quer soluções, mas, sim, sua atenção e, portanto, nada mais eficiente que chorar e travestir-se de fraco para que todos lhe devotem toda atenção ou amor. Nossas mentes judaico-cristãs não resistem a um rosto lavado por lágrimas, afinal, nosso mais expressivo símbolo de devoção é a imagem de um homem agonizando numa cruz.

Para quebrar o ataque de um "coitadinho de mim", basta não mostrar o menor interesse por seus dramas. Rapidamente, ele o deixa em paz e vai em busca de outra pessoa que não contorne suas artimanhas. Além disso, evite o remorso por ignorá-lo, pois o ator descrito não teve escrúpulos ao lhe drenar e acabar com o seu dia. 




           O distante



Agora entramos no terreno dos casais, pois, nesse contexto, alimenta-se o mito de que a atenção que recebem mutuamente vai durar para sempre. No início da relação, costumamos ficar fascinados com a quantidade de energia que recebemos do ser amado. É tanta energia que passamos a ver o mundo mais colorido, os olhos cintilam, o corpo parece mais leve e a vida passa a fazer sentido. Mas todos esses efeitos ocorrem justamente porque a energia trocada pela atenção absoluta que é reciprocamente ofertada no início somada à mágica da energia sexual gera um frenesi. O par de pombinhos se entrega à ilusão de que se bastam e, assim, não tarda para que se desconectem da fonte cósmica de energia. Por fim, quando a novidade se arrefece, também se esvai a atenção ou o amor conforme explicado acima. Então, a energia, outrora farta, finda e o casal se vê impelido a contrabandear amor mutuamente. Os casais, geralmente, usam todos os tipos de drama de controle. São vampiros de primeira categoria.

O processo, numa ordem progressiva de desenvolvimento, costuma se dar da seguinte forma: 1) em conflito, qualquer um dos dois costuma se isolar e ficar com aquela cara de paisagem distante e misteriosa; 2) o distante anseia que você faça a pergunta mágica (“o que você tem?”); 3) pronto! Ele, agora, sabe que tem sua atenção e não vai abrir mão dela. Tenderá a manter o ar distante e misterioso até...; 4) caso você resista em dirigir sua atenção ao peregrino dos áridos desertos, ele geralmente troca o drama, tornando-se mais agressivo.

A melhor forma de desarmar esse personagem é orientando a pessoa a não prosseguir com aquilo, disponibilizando-se para ouvi-la quando desejar procurá-lo ou quando seu humor estiver mais apaziguado. Logo em seguida, retire-se e vá cuidar dos seu projetos e tarefas, não alimente o ciclo.





O interrogador



Esse é o método predileto dos vampiros que ocupam cargos de gerência ou liderança. O drama costuma se desenrolar mais ou menos assim: 1) uma pessoa lhe dirige várias perguntas até que você cometa um erro e se martirize por isso; 2) assim, ele tem sua atenção e o subjuga e, agora, você se vê rebaixado e burro, permitindo que sua energia seja roubada facilmente.

Trata-se de um método muito eficaz e, a cada ataque, a vítima se sente cada vez mais fraca e sob controle, uma vez que se sente inferior, tornando-se suscetível a outros vampiros eventuais, independente do recurso de ataque habitual. Para quebrar esse tipo de ofensiva, peça à pessoa que pare de lhe fazer tantas perguntas e que o deixe em paz. Mas, caso seja o seu chefe, simplesmente não se envolva emocionalmente no interrogatório e, tão logo ele perceber sua impenetrabilidade, não recorrerá mais à agressão psicológica. Obviamente, os chefes costumam ser os piores vampiros e utilizam todos os dramas com proficiência, pois estão no topo da cadeia hierárquica, não sendo necessário ocultar sua tirania.

Tenha cautela! Se necessário, mude de trabalho, pois os estragos no seu psiquismo podem ser irreversíveis.



O agressor



Esse é o método mais degradante de todos. Basicamente, o vampiro rouba a atenção e subjuga sua vítima através da agressão física e verbal. É por isso que assassinos costumam relatar um prazer imenso ao tirar a vida das suas vítimas. Claro que, nem sempre, uma pessoa que utiliza esse drama chega ao ponto de matar alguém. Mas não se deve tolerar uma pessoa com o perfil descrito em nenhuma hipótese.

Para não atrair esse tipo de vampiro, nunca passe uma imagem fraca, de uma pessoa que não sabe se defender. O psiquismo de uma pessoa com esse tipo de drama de controle funciona como a de um predador: ele só ataca os fracos, os doentes, os vulneráveis, por fim. Se um dia se deparar com um desses, enfrente! Baixe a cabeça e nunca mais terá sua vida de volta.




 Somos todos vampiros


Todos nós temos dramas de controle e, antes de sair diagnosticando-os nos outros, olhe para si e elimine os que você identificar. O furto de atenção, amor ou energia de outrem não é saudável para nenhuma das partes.

Por outro lado, o vampirismo é, em alguns meios ocultistas, uma ciência que transcende a descrição que expus aqui. Mas os tipos aqui explicitados são os mais comuns e, dificilmente, você encontrará uma pessoa assumidamente vampira com técnicas mais sofisticadas para roubar energia. Um ataque de um vampiro real e treinado vai exigir um outro tipo de defesa. Entretanto, tranqüilize-se, pois eles são raros. Os mais corriqueiros e que atuam na nossa vida não são poderosos, tampouco fascinantes, sendo apenas pessoas comuns, pagando o preço por terem nascido num berço onde o essencial fora esquecido.

Por favor, preste atenção nos seus filhos!

Autor: Roger Ramos

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