
Nesse texto, não quero fazer apologia
à derrota. Apenas desejo mostrar que há muita beleza em errar e que a maioria
das coisas que você almeja com tamanha sede pode não pertencer a você e que,
muitas vezes, desistir também pode ser muito bom e libertador.
Com o que aprendemos
realmente?
Vamos lá. Seja franco comigo. Alguma
vez você já aprendeu algo com um acerto? Claro que não, pois o acerto não tem
nada para ensinar, ele é apenas um atestado de que você realmente aprendeu. Mas
é tradicional o cultivo de certo repúdio, quase irracional, pelo fator que mais
nos ensina: o erro. A nossa cultura do sucesso tem nos obrigado a não errar em
nenhum aspecto das nossas vidas. Porém, como nós sabemos, isso é impossível.
Tal realidade tem levado as
pessoas a empurrarem os seus insucessos para debaixo do tapete e a não olharem
mais para eles, deixando de aprender, consequentemente. Quantas pessoas você
conhece que admitem um erro? Vejo todos os dias no trânsito pessoas que
entrariam em um octógono de MMA, mas não assumem a culpa pela barbeiragem
cometida. Namorados passam horas discutindo a relação para sempre chegar à mesma
conclusão: a culpa é sua! Também podemos citar os adolescentes que escolhem
cursos inadequados para seus potenciais, embora continuem insistindo, mesmo
após constatarem que fizeram uma péssima escolha. Prosseguem desperdiçando uma
quantidade enorme de tempo e dinheiro apenas para não admitir um fracasso ao
selecionarem suas respectivas carreiras.
Contudo, essas escolhas erradas,
na verdade, só estão revelando um pouco sobre o que a pessoa realmente é e o
que ela realmente quer. Porém, quando negamos o erro, não usufruímos da
preciosa lição nele embutido. Então, você deixa de entender que será um péssimo
médico, mas que, por outro lado, seria um músico genial. Mas ser músico é coisa
de fracassado, não é mesmo? Pois, para mim, fracasso é acordar tendo como
primeiro pensamento o típico e fatídico “Ai, meu Deus... Segunda feira, não!”. Portanto,
comece a aceitar os erros como parte do processo de aprendizado e acerte
sempre.
Olha como eu sou feliz!
Onde vejo as pessoas se negarem
mais a errar é no âmbito emocional. Apesar de quase todas as pessoas serem
acometidas por algum tipo de depressão, vivemos em uma sociedade onde é quase
uma gafe se sentir triste, desiludido e deprimido. Da mesma forma, não podemos
sentir raiva, tampouco demonstrar que não gostamos de algo ou de alguém.
Esse padrão de comportamento vem
gerando muitos prejuízos para nosso psiquismo. Sinceramente, parece que somos
dotados de maestria no quesito autodestruição. Afinal, conseguimos elevar essa
habilidade ao patamar de uma arte refinada.
A tristeza
Um dos estados mais construtivos,
embora também do qual temos uma total aversão é a tristeza. Trata-se de um ótimo momento para
reavaliarmos nosso estilo de vida e, muitas vezes, é causada por algum tipo de
luto que deve ser respeitado. Tentar mascarar uma tristeza geralmente a torna
mais forte e, agora, sim, sem nenhuma lição proveitosa. Vejo a recorrência
disso em términos de relações afetivas, onde muitos casais tentam mostrar para
a sociedade uma libertação e uma alegria instantânea após a ruptura, deixando
de vivenciar o tão merecido luto, geralmente substituindo o antigo parceiro
pelo primeiro mendigo afetivo que passar por perto. Assim, mascara-se a dor, deixando-se
de olhar para dentro e aprender com esse momento de introspecção, além da perda
de uma valiosa oportunidade de aprender muito sobre si mesmo. Tudo isso porque
é feio não estar sempre sorrindo e, então, deixamos a tristeza de lado e
colocamos aquele sorriso de plástico no rosto e seguimos nossas vidas sem
vivenciar os benefícios que poderiam ser auferidos das crises, vivendo em uma
sociedade de bobos alegres.
Desilusão
Outro ótimo exemplo é quando algo
ou alguém não corresponde às nossas expectativas. Ficamos desiludidos, esbravejamos
furiosos ou ficamos deprimidos em um quarto escuro. Na verdade, deveríamos
cultivar um pleno entusiasmo, afinal, desiludir significa parar de viver uma
ilusão. E é muito melhor acordar do que viver em estado de suspensão
indefinidamente. É preferível saber de uma vez que um amigo o enganava a viver
sendo enganado. Mas nutrimos ódio à realidade e verdadeiro pavor à sua textura
sólida e áspera. É muito mais cômodo viver uma doce ilusão, pois ela não exige
nada de você. Basta se sentar e viver uma vida pálida, onde nada é questionado.
Acorde do sonho!
Vamos, então, parar de rejeitar a
realidade e interromper este nocivo confronto. Acertar e errar fazem parte
dessa jornada e é esse caminho dotado de percalços deve ser vivenciado. Abandone
esse seu vício em euforia e passe a perceber os momentos de escuridão, pois é com
a chegada da noite que nos recolhemos, recarregamos nossas forças e amanhecemos
revigorados para retomar nossa tão diversificada caminhada.
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