domingo, 14 de abril de 2013

O BARBA BRANCA





Sempre gostei muito de ensinar, ministrar cursos teóricos e práticos, palestras e grupos de estudo.  Fiz isso a minha vida toda e acho que é o que morrerei fazendo. Mas, durante muito tempo, esse meu prazer me trouxe uma enorme tristeza e desgosto, pois sempre percebia que tudo que ensinava jamais era posto em prática por meus clientes e alunos. Esforçava-me o tempo inteiro para obter conhecimento novo e de qualidade, pesquisava profundamente sobre o ensinamento a ser transmitido e, geralmente, conseguia informações refinadas e técnicas com as quais quase ninguém tinha tido contato até então. Mas, quando passava essas pérolas para as pessoas, elas simplesmente pareciam indiferentes, nem sequer testavam para saber se o que aprenderam tinha alguma eficácia. Era um panorama muito frustrante. Por muito tempo padeci com essa situação, pensando até em abandonar tudo, embora nunca conseguisse de fato. Então, veio a luz!

Valorize a mensagem, não o mensageiro

Percebi que pouco importa o conhecimento que fora passado, pois o que realmente é relevante para a maioria das pessoas é o personagem que o transmite! Afinal, já participei de várias palestras, cursos e eventos relacionados ao autoconhecimento, que, na maior parte das vezes, ensinavam apenas fragmentos ou então alegorias e mimetismos enfeitados e, francamente, eu até me envergonhava de ter participado de muitos desses cursos. Mas, quando eu olhava para os lados, as pessoas estavam envolvidas e, de certa forma, satisfeitas com aquela encenação. O ministrante, entretanto, era uma indiano do Rajastão ou, então, professor de um outro lugar qualquer, sempre se tratava de um personagem com uma história melodramática servindo de pano de fundo. Assim, percebi que as pessoas participavam desses eventos não para aprender e sim para cultuar.

Parecer ser

Vivemos em uma era onde todos apenas parecem algo. Parecem ser felizes, bem sucedidas, inteligentes, embora dificilmente os sejam. Observando suas fotos nas redes sociais, vê-se que estão felizes, gozando de vidas perfeitas, relacionamentos incríveis e edificantes. Suas descrições a respeito de si mesmos também demonstram seus profundos conhecimentos do self. Mas onde estão os deprimidos e os “sem rumo”? Então, basta você encontrar aquela pessoa pessoalmente para que os problemas e as lágrimas comecem a romper os disfarces. Em geral, não nos importa se o que vemos é verdade ou não, apenas que pareça ser. Portanto, se tem barba branca, é mestre!
Agora que você já sabe que o parecer já basta, não saia de casa sem sua fantasia. 

O FarFalhar das folhas

As pessoas perderam completamente a capacidade de aprender, pois deixaram de perceber os ensinamentos velados em todas as coisas em volta. Agora precisam de um mestre, um velhinho com barba branca que veio dos Himalaias para lhes dizer o que fazer das suas vidas. Deixamos de aprender com nós mesmos, com o simples farfalhar das folhas. Deixamos de enxergar os mestres ocultos, que possuem as lições mais reais e verdadeiras. Tudo isso porque não queremos ser responsáveis por nossas escolhas, deixando que o Barba Branca se encarregue dessa tarefa, pois, se ele errar, podemos acusá-lo de charlatão e, assim, mantemos nossa inocência. Abrimos mão da responsabilidade, do controle, queremos ser guiados o tempo todo. Aguardamos esse mestre iluminado que vai nos salvar, as crianças índigo que vão mudar a frequência do planeta e nos ensinar um novo modo de viver. Hahaha... Aliás, que os mestres se apiedem das almas dessas crianças índigo, que irão viver sob a punição severa de seus pais e, provavelmente, se tornarão bombas-relógio, suicidas, desajustadas. Raros são os pais que não encaram a paternidade como um cargo, dentro do qual eles são inquestionáveis. Como, então, essas pessoas vão aprender com os filhos? Vivemos esperando as mudanças e os avatares que virão um dia de algum lugar muito distante. Mas posso garantir que eles já estão em sua casa, basta se olhar no espelho. O mestre está em todos os lados para quem estiver disposto a se tornar um.

Boa jornada! 

Texto: Roger Ramos

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