domingo, 14 de abril de 2013

Novos Tempos



HOMO SAPIENS


Às vezes, abro a janela de minha casa e fico olhando aquele mar de carros. Fico pensado para onde vão aquelas pessoas com aqueles olhares tristes e sonâmbulos. Por que fizemos isso com a gente? Trocamos as árvores por postes com fios pretos e embaraçados; os pássaros por buzinas irritantes que reproduzem perfeitamente nossa raiva e frustrações; a grama por um tapete de betume; as curvas das montanhas por caixas de cimento e vidro; e, aos poucos, vamos cobrindo o céu com uma cortina de pó preto.

MUDOU

Em nossa tentativa de controle absoluto, acabamos enjaulados e achamos que a jaula é nossa casa e está ali para dar proteção. Na busca por fortuna, nos deparamos com uma fonte de miséria destilada. Ainda não percebemos que estamos vivendo em uma época diferente, um novo tempo. Todo nosso sofrimento vem do fato de não vivermos em sintonia com as mudanças. Entramos na era do conhecimento, ou melhor, do autoconhecimento e ainda vivemos como nossos avós, com as mesmas necessidades e questionamentos, buscando apenas o sustento e a construçao de uma família. Naqueles tempos, sim, poderíamos justificar o desespero para se acumular fortuna, pois, até mesmo para se comprar um cacho de uvas, você precisava ter muito dinheiro. Se desejasse ir a um restaurante, comprar roupas de boa qualidade ou um presente para seu filho, precisaria ter muitos recursos. Enfim, caso não quisesse ser apenas mais um pobre coitado, então era melhor acumular muito dinheiro e, se estivesse interessdo em cultura e erudição, então, talvez nem suas finanças pudessem lhe ser úteis, pois informação era um luxo de difícil acesso e, em alguns casos,  inacessível de fato. Portanto, não havia opção e muitos até se tornavam escravos, assassinos ou dragões  na tentativa de se tornarem reis!

A ERA PERFEITA

Então, meus avós deveriam olhar para o céu à noite e sonhar com um mundo onde eles poderiam viajar, ter acesso fácil a tudo, desde bens de nessecidade básica até a informação. Um mundo conectado onde se pudesse estar em qualquer lugar dentro de poucas horas de viagem e que ainda fosse um processo de baixos custos. Nesse mundo utópico, bastaria apertar um botão para que se pudesse aprender tudo o que se almejasse, ter seu carro próprio para sair de casa e saborear pratos de qualquer cozinha internacional seria uma questão de escolha. Claro que nem a mais vertil das mentes daquela época poderia imaginar ao que temos acesso hoje. Contudo, as possibilidades que citei devem servir apenas para que o leitor se dê conta do que nos é tangível hoje, pois, enquanto os terroristas pintam um quadro dantesco da nossa era atual, eu só consigo perceber que vivo na melhor época que já se pôde conceber. Está tudo aqui bem na minha porta e basta escolher! Mas é exatamente aí que jaz o problema envolvendo nossas escolhas.
Não é possível que a mesma raça que criou o computador ainda usa água potável em suas descargas sanitárias; que  inventou a televisão de alta definição LED e transmite Big Brother, Faustão, Gugu, Datena; e que tem internet só para atualizar o perfil no Facebook. Nunca foi possível ter uma saúde física, energética e mental com tanta facilidade, mas, no entanto, não se tem registro de civilização mais doente em todos os aspectos. E o nome para o vilão é: escolhas. Faça, portanto, jus ao título de Homo sapiens.

CHUTA QUE É MEDÍOCRE!

Abandonemos essa busca excessiva por bens materiais e busquemos o que foi abandonado até agora. É preciso buscar os prazeres simples tais como pintar uma tela, escrever um poema, fazer sexo com atenção, cozinhar para um amigo querido, dormir abraçado com um filho, festejar sem estar embriagado. Chute toda a mediocridade da sua vida, comece a sair do óbvio. Abandone a postura de passividade e passe a se questionar, pois não é a Rede Globo quem fará isso por você. Vivemos em um mundo onde você pode ser quem quiser ser, então por que ser só isso? Só sei que, nessa maratona para se chegar ao túmulo e à loucura, eu quero perder feio! Fique rico, mas pise descalço no chão. 


Texto: Roger Ramos

O BARBA BRANCA





Sempre gostei muito de ensinar, ministrar cursos teóricos e práticos, palestras e grupos de estudo.  Fiz isso a minha vida toda e acho que é o que morrerei fazendo. Mas, durante muito tempo, esse meu prazer me trouxe uma enorme tristeza e desgosto, pois sempre percebia que tudo que ensinava jamais era posto em prática por meus clientes e alunos. Esforçava-me o tempo inteiro para obter conhecimento novo e de qualidade, pesquisava profundamente sobre o ensinamento a ser transmitido e, geralmente, conseguia informações refinadas e técnicas com as quais quase ninguém tinha tido contato até então. Mas, quando passava essas pérolas para as pessoas, elas simplesmente pareciam indiferentes, nem sequer testavam para saber se o que aprenderam tinha alguma eficácia. Era um panorama muito frustrante. Por muito tempo padeci com essa situação, pensando até em abandonar tudo, embora nunca conseguisse de fato. Então, veio a luz!

Valorize a mensagem, não o mensageiro

Percebi que pouco importa o conhecimento que fora passado, pois o que realmente é relevante para a maioria das pessoas é o personagem que o transmite! Afinal, já participei de várias palestras, cursos e eventos relacionados ao autoconhecimento, que, na maior parte das vezes, ensinavam apenas fragmentos ou então alegorias e mimetismos enfeitados e, francamente, eu até me envergonhava de ter participado de muitos desses cursos. Mas, quando eu olhava para os lados, as pessoas estavam envolvidas e, de certa forma, satisfeitas com aquela encenação. O ministrante, entretanto, era uma indiano do Rajastão ou, então, professor de um outro lugar qualquer, sempre se tratava de um personagem com uma história melodramática servindo de pano de fundo. Assim, percebi que as pessoas participavam desses eventos não para aprender e sim para cultuar.

Parecer ser

Vivemos em uma era onde todos apenas parecem algo. Parecem ser felizes, bem sucedidas, inteligentes, embora dificilmente os sejam. Observando suas fotos nas redes sociais, vê-se que estão felizes, gozando de vidas perfeitas, relacionamentos incríveis e edificantes. Suas descrições a respeito de si mesmos também demonstram seus profundos conhecimentos do self. Mas onde estão os deprimidos e os “sem rumo”? Então, basta você encontrar aquela pessoa pessoalmente para que os problemas e as lágrimas comecem a romper os disfarces. Em geral, não nos importa se o que vemos é verdade ou não, apenas que pareça ser. Portanto, se tem barba branca, é mestre!
Agora que você já sabe que o parecer já basta, não saia de casa sem sua fantasia. 

O FarFalhar das folhas

As pessoas perderam completamente a capacidade de aprender, pois deixaram de perceber os ensinamentos velados em todas as coisas em volta. Agora precisam de um mestre, um velhinho com barba branca que veio dos Himalaias para lhes dizer o que fazer das suas vidas. Deixamos de aprender com nós mesmos, com o simples farfalhar das folhas. Deixamos de enxergar os mestres ocultos, que possuem as lições mais reais e verdadeiras. Tudo isso porque não queremos ser responsáveis por nossas escolhas, deixando que o Barba Branca se encarregue dessa tarefa, pois, se ele errar, podemos acusá-lo de charlatão e, assim, mantemos nossa inocência. Abrimos mão da responsabilidade, do controle, queremos ser guiados o tempo todo. Aguardamos esse mestre iluminado que vai nos salvar, as crianças índigo que vão mudar a frequência do planeta e nos ensinar um novo modo de viver. Hahaha... Aliás, que os mestres se apiedem das almas dessas crianças índigo, que irão viver sob a punição severa de seus pais e, provavelmente, se tornarão bombas-relógio, suicidas, desajustadas. Raros são os pais que não encaram a paternidade como um cargo, dentro do qual eles são inquestionáveis. Como, então, essas pessoas vão aprender com os filhos? Vivemos esperando as mudanças e os avatares que virão um dia de algum lugar muito distante. Mas posso garantir que eles já estão em sua casa, basta se olhar no espelho. O mestre está em todos os lados para quem estiver disposto a se tornar um.

Boa jornada! 

Texto: Roger Ramos