HOMO SAPIENS

MUDOU
Em
nossa tentativa de controle absoluto, acabamos enjaulados e achamos que a jaula
é nossa casa e está ali para dar proteção. Na busca por fortuna, nos deparamos com
uma fonte de miséria destilada. Ainda não percebemos que estamos vivendo em uma
época diferente, um novo tempo. Todo nosso sofrimento vem do fato de não vivermos
em sintonia com as mudanças. Entramos na era do conhecimento, ou melhor, do
autoconhecimento e ainda vivemos como nossos avós, com as mesmas necessidades e
questionamentos, buscando apenas o sustento e a construçao de uma família.
Naqueles tempos, sim, poderíamos justificar o desespero para se acumular
fortuna, pois, até mesmo para se comprar um cacho de uvas, você precisava ter
muito dinheiro. Se desejasse ir a um restaurante, comprar roupas de boa
qualidade ou um presente para seu filho, precisaria ter muitos recursos. Enfim,
caso não quisesse ser apenas mais um pobre coitado, então era melhor acumular
muito dinheiro e, se estivesse interessdo em cultura e erudição, então, talvez nem
suas finanças pudessem lhe ser úteis, pois informação era um luxo de difícil
acesso e, em alguns casos, inacessível
de fato. Portanto, não havia opção e muitos até se tornavam escravos,
assassinos ou dragões na tentativa de se
tornarem reis!
A ERA PERFEITA
Então,
meus avós deveriam olhar para o céu à noite e sonhar com um mundo onde eles
poderiam viajar, ter acesso fácil a tudo, desde bens de nessecidade básica até
a informação. Um mundo conectado onde se pudesse estar em qualquer lugar dentro
de poucas horas de viagem e que ainda fosse um processo de baixos custos. Nesse
mundo utópico, bastaria apertar um botão para que se pudesse aprender tudo o
que se almejasse, ter seu carro próprio para sair de casa e saborear pratos de
qualquer cozinha internacional seria uma questão de escolha. Claro que nem a
mais vertil das mentes daquela época poderia imaginar ao que temos acesso hoje.
Contudo, as possibilidades que citei devem servir apenas para que o leitor se
dê conta do que nos é tangível hoje, pois, enquanto os terroristas pintam um
quadro dantesco da nossa era atual, eu só consigo perceber que vivo na melhor
época que já se pôde conceber. Está tudo aqui bem na minha porta e basta escolher!
Mas é exatamente aí que jaz o problema envolvendo nossas escolhas.
Não
é possível que a mesma raça que criou o computador ainda usa água potável em
suas descargas sanitárias; que inventou
a televisão de alta definição LED e transmite Big Brother, Faustão, Gugu, Datena;
e que tem internet só para atualizar o perfil no Facebook. Nunca foi possível
ter uma saúde física, energética e mental com tanta facilidade, mas, no entanto,
não se tem registro de civilização mais doente em todos os aspectos. E o nome
para o vilão é: escolhas. Faça, portanto, jus ao título de Homo sapiens.
CHUTA QUE É MEDÍOCRE!
Abandonemos
essa busca excessiva por bens materiais e busquemos o que foi abandonado até
agora. É preciso buscar os prazeres simples tais como pintar uma tela, escrever
um poema, fazer sexo com atenção, cozinhar para um amigo querido, dormir
abraçado com um filho, festejar sem estar embriagado. Chute toda a mediocridade
da sua vida, comece a sair do óbvio. Abandone a postura de passividade e passe
a se questionar, pois não é a Rede Globo quem fará isso por você. Vivemos em um
mundo onde você pode ser quem quiser ser, então por que ser só isso? Só sei que,
nessa maratona para se chegar ao túmulo e à loucura,
eu quero perder feio! Fique rico, mas pise descalço no chão.
Texto: Roger Ramos
Texto: Roger Ramos