segunda-feira, 1 de julho de 2013

Árvore da Vida







Ando, paro, penso e volto a caminhar, sempre sentindo o pulsar vital inerente a cada beleza casual. E o que concluo é que a criação é o motor das circunstâncias, pois é do barro, da matéria disforme que compõe a terra que o lótus constrói com minúcia e perspicácia seu perfume, pétalas e raízes, num rearranjo único e novo.

Vejo também que a vida dança num ritmo descompassado, que se dirige a algum lugar que, aparentemente, já conhece, explorando as possibilidades que não param de despontar nos infindáveis horizontes. Essa aparente coincidência, essa ordem sutil que se traveste de caos e toda essa avassaladora beleza que insiste fingir-se de mero acidente me embriaga e me liberta dos julgamentos, das armadilhas intelectuais sem propósito e, principalmente, da dúvida. O que sobra é, mais uma vez, o pulso criativo, a trepadeira que cresce sem controle dominando grades, muros e prédios inteiros...

Minha caminhada é sobre uma estrada branca cujo destino ainda não está demarcado e nunca poderá estar, pois as rotas ora se sobrepõem, ora se ramificam num desenho sem simetria, contanto que não há volta nem chegada possíveis. Então sei que, certamente, terei de fechar os olhos em alguns instantes para perceber que o ar que inalo e exalo e que distribui o oxigênio para toda a extensão de meu corpo é algo tão mágico quanto o meu trajeto. Meu caminho está repleto de pedra e areia e o ar que me invade os pulmões tem diminutas partículas de pó que meu corpo é capaz de filtrar, mas, além disso, minha estrada também é uma materialização da música harmoniosa que meus pensamentos emanam e o meu ar é um dos aspectos da energia vital. Impossível não descobrir, portanto, que a arte de ousada beleza vibra em meu peito, permitindo que tudo viva, sobreviva e funcione de forma simples, porém engenhosa. Em mim repousa nada menos nada mais que a arte de intercalar matéria, espírito e divindade.

Absorto nessa forma interligada de interpretar meus passos, encontro muitas outras respostas, como o conceito universal do próprio amor. Defini-lo equivale a vivê-lo, significa fazer da própria vida um conjunto de experiências intensas, criadoras e divinas, que são possíveis apenas quando reencontro a linha sinuosa do meu caminho familiar. É agora que compreendo, também, o autoconhecimento e suas doces consequências. Trata-se do mesmo processo feito pela catadora de feijões de todas as manhãs que, insistentemente, recolhe pedras, estragos e impurezas para, finalmente, isolar os grãos saudáveis. Quando faço o mesmo, vejo que as minhas sementes de feijão não apenas se tornam visíveis para mim, como também parecem desejar criar o que ainda não imagino.

Visualizo minha árvore da vida com toda sua sabedoria e orgulho-me enormemente em confessar que eu a descobri por mim mesmo, sentindo muito medo, embora não paralisado por ele. E, agora, não importa que rota escolha, sou sempre capaz de encontra-la no mesmo lugar, com a mesma nudez e imponência. Mas hoje, quando a vi pela enésima vez, percebi que seus botões haviam sido abertos, tingindo céu e terra de um índigo violáceo ao qual meus olhos demoraram a se adaptar. Uma abelha frenética impregnaria o corpo com o pólen, que seria inserido no ventre de outra flor, os princípios macho e fêmea se amariam, gerando uma semente maciça que, encontrando um bom solo, germinaria e passaria a ser um novo ente, com outros saberes, outros feitiços. 


Autora: Leticia Braga